quinta-feira, julho 19, 2012

OBINA SHOK






















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Se você achava que a música africana ou jamaicana ganhou o Brasil de assalto na década de 80 por conta do disco Selvagem? dos Paralamas do Sucesso está completamente errado. A banda que fincou as raízes africanas no rock brasileiro foi o Obina Shok, grupo formado em 1985 em pleno Planalto Central, mas com os pés fincados na mãe África - é, o Chico César não tem primazia na expressão. O grupo fazia tudo aquilo que Bi, Herbert e Barone fariam no seu terceiro disco, inclusive aquelas guitarrinha sensual de Alagados. No caldeirão sonoro da banda cabia reggae, salsa, juju music, soca, funk e música popular brasileira.  A banda só poderia ter surgido em Brasília, já que trazia o senegalês Jean-Pierre Senghor (vocais e teclados) – neto do poeta libertador africano Leopold Senghor, homenageado por ninguém menos que Bob Dylan no disco Street Legal –, o gabanês Roger Kedy (guitarra e vocais), o surinamês Winston Gound (bateria) e os brasileiros Henrique Hermeto (guitarra), Sérgio Galvão (sax-alto), Maurício Lagos (baixo), Sérgio Couto e Hélio Franco (percussão). Os três gringos eram filhos de diplomatas terceiro-mundistas e estudavam na Universidade de Brasília (UnB), assim como os brasileiros. O nome da grupo, cuja origem estava no dialeto miene, do Gabão, significa "caminho da dança".  A banda ganhou de assalto o público e crítica carioca ao realizar apresentações no Rio de Janeiro já em 1986, quando se apresentaram no Parque Lage numa tarde de domingo de verão. O Obina levou a platéia formada por punks, mauricinhos, sambistas, góticos e quetais ao delírio com suas músicas cantadas em dialetos africanos, inglês e português, abrindo os olhos da crítica para "mais um grande grupo brasiliense". "É a coqueluche deste verão", afirmou o jornalista Luiz Carlos Maciel. Foi mesmo. A banda cresceu em prestígio de público e crítica, ganhando elogios rasgados de muita gente.  No segundo semestre de 1986, o grupo já estava lançando o disco Obina Shok, contando com a participação de Gal Costa, Gilberto Gil, Márcio Montarroyos, Paulinho Trumpete e o percussionista Repolho. O disco saiu pela RCA Victor com sete faixas, cantadas em inglês, francês e dialetos africanos. A faixa Vida, que tinha Gal Costa e Gil dividindo os vocais, ganha as rádios de norte a sul do país. A melhor música do disco, contudo, é Africaner Brother Bound, um libelo anti-racista.  O disco é bem recebido pela crítica, que elogia sem parar a banda e o trabalho musical do octeto, que ganha elogios pela sonoridade. "O disco é pura negritude", afirma a jornalista Mônica Maia, que faz côro ao resto da crítica: "O futuro do rock é a África".  A banda, no entanto, foi a primeira a colocar as coisas nos seus devidos lugares. "A música afro não pode ser encarada como tábua de salvação, mas como uma saudável ampliação das linhas de pesquisa do rock", diz o alquimista Roger. O segredo do disco é simplicidade, ensina. "É um trabalho que dá menos trabalho, pois não é preciso mixar, fazer distorções", explica. "É um som de palco, limpo e simples e quanto mais simples um trabalho, mais bonito e criativo". Ele lembra que todas as bandas de Brasília só fizeram sucesso por que o trabalho era demasiadamente simples.  Em 1987 alguns integrantes deixam a banda, que continua sendo liderada por Roger e Jean-Pierre. Preta Gil ingressa no grupo, que ganha o aval definitivo do pai da moça, ninguém menos que Gilberto Gil. As raízes africanas continuam sendo seguidas, mas o som acaba um pouco mais diluído. No ano seguinte, o grupo lança um segundo disco mas, logo depois, encerra suas atividades.  De todos os integrantes da banda, apenas dois continuam na ativa: Jean-Pierre e Helio Franco. O primeiro é tecladista do Cidade Negra, tendo passado pela banda de Marisa Monte. Hélinho Franco atuou como percussionista e líder do grupo brasiliense Tijolada Reggae.
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